quinta-feira, 17 de março de 2016

A Tal Moça do Bar


Depois de dar um fim a ligação de Malu e um fim em nossa relação um tanto fracassada, levantei da cama e não consegui mais dormir, ela conseguiu o que queria tirar o meu sono depois de tanto tempo longe. Eu não queria que chegássemos a esse ponto, gostaria de ajudá-la, mas, depois de tudo isso seria impossível.
Resolvi finalmente tomar uma xícara de café para tentar me recuperar de tudo o que havia acontecido em apenas dez minutos. Espero que Malu fique bem! Enquanto tomava meu café, percebei o caderninho preto em cima da cômoda, eu sei que não deveria ler nada, mas eu gostaria de saber o nome daquela moça de bar, a quem eu sempre ficava de olho. Abri o caderninho e vi que lá se encontrava um nome "Malu", fiquei um tanto confuso, será que minha vida iria ser sempre cheia de moças com este nome? Será para que eu não me esquecesse de uma mulher que me fez sofrer tanto? Será para que eu nunca me esquecesse da lição que aprendi com a mulher que carregava o mesmo nome? Carma, talvez?
Finalmente, virei a página do pequeno caderno e li a primeira linha e nela encontrei o seguinte texto:
"Pedro, eu sei que você fica de olho em mim desde que decidi escrever neste caderninho aqui no bar que sei que você frequenta todas as noites. Eu gostaria de pedir desculpas por ter sumido durante tanto tempo de sua vida e de não ter mantido contato contigo, por ser tão seca nas poucas vezes que trocamos mensagens, mas, você não entenderia. Amanhã no bar você não me encontrará, eu não irei estar lá, o que estou decida a fazer agora já estará feito e eu espero que supere isso e siga em frente, como vi você fazendo durante todos esses anos em que achou que eu estava longe! Eu mudei, eu sei, caso contrário você me reconheceria, caso contrário você não me deixaria sumir de novo, caso contrário eu te faria sofrer, caso contrário eu faria com que você machucasse a si mesmo e isso era o que eu estava tentando evitar quando disse que iria para São Paulo e quando você soube que eu nunca voltaria. A verdade é que eu nunca fui para São Paulo, a verdade é que eu nunca saio de perto de você, eu sempre estive aqui, eu não te abandonei, como sei que você pensa. Eu estava aqui o tempo todo, de olho em você para que a solidão não corrompesse a sua alma, como corrompeu a minha. Me desculpe por fazer você pensar coisas horríveis sobre você mesmo, mas, você sabe que isso era necessário para que você pudesse ser feliz e eu sei que comigo você nunca conseguiria ser, você sabe que eu nunca fui o tipo de pessoa normal, nunca fui um poço de compreensão, nunca me senti o suficiente para que aquele nosso relacionamento desse certo. Por ser doloroso e eu sei disso mais do que ninguém, mas eu fiz tudo que fiz para o seu bem, eu sempre fui muito complicada e isso nunca te fez bem. A minha missão aqui na terra, eu tenho certeza, terminou. Eu fiz o bem o máximo de vezes que eu pude e consegui. Eu sempre quis que o mundo fosse um lugar melhor, onde pudéssemos viver em paz, viver bem uns com os outros, sem julgamentos desnecessários, não acho que tenha falhado contigo, eu falhei comigo e com o mundo. Sempre tive esperanças de um mundo melhor, de uma vida melhor, de pessoas melhores, mas como tudo um dia acaba, a minha esperança acabou. Não acho mais que o mundo algum dia será um lugar melhor para que possamos viver em paz, não concordo mais que possamos viver bem uns com os outros, simplesmente por que isso é impossível, o mundo está em modo autodestrutivo e eu não posso salvá-lo, eu não posso fazer nada, ninguém pode fazer alguma coisa para que isso mude. As coisas não vão mudar, o mundo não vai mudar e as pessoas que poderiam ser a salvação para tudo isso, elas também não irão mudar, não entendem o poder que tem em suas próprias mãos e as que se deram conta desse poder não estão mais aqui, sabe porquê? Por que é muito difícil viver com este poder e ser impotente sozinho, onde existem trilhões de pessoas que não se dão conta disso, é um peso grande demais para carregar sozinho. Não tenho mais esperanças de um mundo melhor, nem esperanças de uma vida melhor aconteça por aqui e nem mesmo de pessoas melhores. Não posso dizer que elas não existem, elas existem, mas, não podem fazer a diferença sozinhas. Adeus, quando ler isto eu não estarei mais entre você, simplesmente por que não consigo viver com este poder que sei que tenho em minhas mãos e me sentir impotente, simplesmente por que o peso é demais para que eu consiga carregar sozinha. Eu te amo, tente fazer a diferença por mim!
Com amor,
Malu."

  • Autoria de: Caroline Sant.

4 comentários:

  1. Adoro crônicas e adorei a sua, parabéns pela escrita!

    Xoxo :*
    www.isabelamingues.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Para! Não to acreditando que era ela!!! Que genial, estou chocada! Gostei muito, parabéns! Sério, estou sem palavras... Achei que ele ia descobrir uma nova paixão, esquecer Malu e a garota do bar era a Malu o tempo todo! Gostei muito da reflexão da carta de despedida dela, faz pensar o quanto fazer a diferença neste mundo tão grande e egoísta é difícil, às vezes me sinto como Malu. Adorei, parabéns! ♥
    <a href="http://cafevodkaeliteratura.blogspot.com.br/>Café, vodka e Literatura</a>

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, fico muito feliz que tenha gostado e entendido o real sentido da carta de Malu. Sou muito apegada a esses personagens, grande beijo! ♡

      Excluir