terça-feira, 8 de março de 2016

Moça de Bar



Ela estava sentada em uma cadeira de bar, escrevendo freneticamente em um caderninho preto. Dela irradiava um brilho que eu nunca tinha visto em 24 anos de jornada nessa terra, o olhar dela dizia coisas que eu gostaria de poder decifrar.    Todos os dias encontrava a mesma mulher, sentada exatamente na mesma cadeira de bar sempre acompanhada de uma xícara de café quente, e todos os dias ela escrevia naquele pequeno caderninho preto, quando ela se levantou indo em direção a porta enferrujada do bar, notei que havia esquecido aquele caderno que parecia ser tão importante para ela na bancada da mesa, não sabia ao certo se teria feito aquilo propositalmente ou se o teria deixado para trás sem notar, mesmo assim peguei o caderno e o coloquei dentro do bolso da minha jaqueta, por um lado estava curioso para  finalmente saber o que aquela bela moça tanto escrevia em seu caderno, mas, por outro lado não poderia agir dessa maneira, invadir a privacidade de alguém e mergulhar em seus pensamentos e segredos mais íntimos.
No dia seguinte ao amanhecer, acordei com o celular tocando e não pude acreditar na chamada que estava recebendo, só poderia ser uma brincadeira de mau gosto, era Malu. Atendi sem ar:
- Olha só, se isso for uma brincadeira de mau gosto... – a voz no telefone não me deixou continuar e estremeci ao perceber que a voz não era de Malu.
- Oi Pedro! – respondeu a voz ofegante de Bianca, amiga de Malu.
- Bianca? Aconteceu alguma coisa? – indaguei, tentando não parecer tão confuso no telefone quanto estava pessoalmente.
- Ah...é que, bem, na verdade não sei como dizer isso a você, hãn..não sei por onde começar... – disse Bianca, me deixando mais preocupado, o que havia acontecido? Porque ela ligou ao invés de Malu? Será que algo teria acontecido a ela? Meu coração acelerava a cada minuto que se seguia.
- Fale logo Bianca, não me deixe preocupado desse jeito! Aconteceu algo a Malu? Não me amole, diga de uma vez. – respondi sem paciência, soando no telefone o quanto estava preocupado com sua ligação.
- Ok, mas depois não me culpe por dar uma noticia dessas assim! – respondeu ela, com a voz um tanto falhada.
- Desembuche Bianca Machado! – já estava nervoso, assim como estava preocupado.
- Malu está voltando para casa! – disse ela de uma vez.
Aquelas cinco palavrinhas me atingiram de uma forma que eu jamais esperava que atingisse quando soubesse que Malu estaria voltando para os meus braços, claro que eu a amava, mas, depois de cinco anos longe dela não conseguia vê-la novamente ao meu lado, dividindo a mesma casa, a mesma cama, a mesma rotina, a mesma coberta. Quando Malu decidiu partir, ela apenas partiu, não pensou no que deixaria para trás naquela pequena cidade no meio de Minas Gerais, o que claro incluía a mim, a nossa vida juntos, nossos quatro anos juntos, não pareceu que ela se importava como eu me importava com nosso futuro juntos, ela sabia que eu queria uma vida calma, com três filhos e dois gatos preguiçosos. Malu era completamente o oposto de mim, ela queria uma vida corrida e não se importava muito com os três filhos que eu tanto planejava para o nosso futuro juntos, ela não queria filhos, não queria uma vida tranqüila em um bairro pequeno, e muito menos queria dois gatos preguiçosos, lembro claramente que na época ela não parecia se importar com o nosso futuro, na verdade, eu a olhava nos olhos e os olhos verdes de minha querida Malu me falava que não tinha os mesmos planos que eu sempre quis e sempre planejei, ela não queria formar uma família.
Saber que Malu voltaria depois de cinco anos longe, me deixava tonto, não sabia o que dizer a Bianca, deixando nossas respirações conversarem em um imenso silêncio.
- Pedro? Você ainda esta na linha? – perguntou Bianca, agora ela preocupada com o meu silêncio.
- Sim, ela vai pegar o avião de que horário? Porque ela não me ligou? Ela está ai do seu lado? Passe o telefone para ela! – Falei autoritário, um tanto decepcionado com a coragem que Malu costumava ter e curioso para saber o porquê Malu não tinha me ligado e sim a amiga dela.
- Pedro se acalme. Malu não teve coragem de te ligar depois de cinco anos sem trocar mais do que três palavras com você! Não fique nervoso com a coitada da Malu, por favor. - falou ela, implorando pelo meu estado de espírito paciente.
- Passe o telefone para Malu agora Bianca! – disse um tanto irritado com a intromissão dela.
- Ok, ok... – respondeu, com um tom de desistência em sua voz.

Passaram-se cinco minutos de espera e nada de Malu, ao fundo ouvia duas vozes conversando. Minha paciência já estava se esgotando e estava a ponto de desligar o telefone.
- Oi meu amor, espero que esteja feliz com a noticia, estou com tanta saudade, eu ia te ligar, mas... – não a deixei terminar aquela frase pronta, depois de cinco anos sem ao menos uma ligação dela a mim. Era como se eu não existisse para ela enquanto ela estava na cidade grande, com seus amigos novos e sua vida corrida, era como se ela não tivesse pelo menos cinco minutos para me ligar e dizer que estava com saudades, ou apenas para dizer que estava bem. Nada. Nenhuma ligação, mensagens que não passavam de três palavras. Depois de dois anos que ela estava lá, comecei realmente a pensar que ela não se importava com o nosso futuro e nossos planos. Nem me considerava comprometido mais, não depois de cinco anos sem um contato estabelecido.
- Não me venha com esse papo furado, Malu. Por que está voltando depois de cinco anos de distância, se nem ao menos conseguia dez minutos do seu tempo para me ligar e contar o que estava acontecendo por ai? E aquelas minhas ligações que você simplesmente evitava? Por que quer voltar agora? – disse praticamente cuspindo aquelas palavras ao telefone, não agüentava mais ficar calado, ela tinha que saber como me sentia em relação a nós, se é que ainda existisse “nós”.
- Não podemos conversar sobre isso quando voltar para casa, amor? – respondeu ela, com um tom de voz meloso, que chegava a me enjoar.
- Não podemos porque aqui para a minha casa você não volta a morar! Eu cansei de seus joguinhos de tontura, será que durante esses cinco anos de distância, depois de todas as minhas tentativas frustradas de manter algum contato contigo, você não percebeu que eu havia desistido de um possível ‘nós’? Eu não sabia o que estava acontecendo por ai, você não me ligava, não atendia as minhas ligações, e respondia as minhas mensagens o mais seca possível, o meu amor por você era forte, mas eu não desisti de você durante seis anos. Mas sabe a gente não desiste daquilo que não gostamos, a gente desiste daquilo que dói daquilo que nos machuca e não nos deixa seguir em frente, e depois de dois anos tentando estabelecer contato com você, eu desisti! Não posso mais lidar com as dores de você causa a mim, eu segui em frente e espero que você faça o mesmo! – disse o que queria dizer a ela a muito tempo, não poderia deixar aquilo tudo me sufocar esperando que ela chegasse aqui em Minas. Não queria morrer sufocado por minhas próprias palavras não ditas.
- Pedro, por favor! Eu preciso de você, sei que pode me ajudar. Eu estou grávida! - disse ela, e percebi os soluços dela ao telefone.
- Grávida? Com certeza o filho não é meu e eu não posso te ajudar com isso Malu, é deplorável que tivemos que acabar assim por telefone, mas não podia esperar você chegar aqui para dizer o que eu já deveria ter dito há algum tempo atrás, me desculpe! Se cuide e cuide do bebê. - disse com os olhos em lágrimas, apesar de não querê-la mais do meu lado, não significava que eu queria o seu mal, será difícil para ela ter de enfrentar essa situação, mas ela teria de arcar com as conseqüências de seus atos.



  • Autoria de: Caroline Sant.

6 comentários:

  1. Como você termina assim? Isso é uma one shot? Eu fiquei com gostinho de quero mais. Queria saber o mistério do caderninho preto. Parabéns pela escrita, prende o leitor e deixa a curiosidade no ar.

    Hoje tem texto especial pelo dia da mulher, vem conferir! bjs
    duasdosesdeloucuras.blogspot.com.br

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    1. Sim, é uma one shot! O próximo capítulo sai na quinta feira da semana que vem, espero que venha conferir o próximo capítulo e me dizer o que achou!
      Muito obrigada, vou conferir sim. Beijos

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  2. espero que isso não seja uma one shot pq estarei mortinha <3 http://poesiadescompassada.blogspot.com.br/2016/03/tag-liebster-award.html

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    1. É uma one shot, venha conferir o próximo capítulo quinta feira!
      Beijos <3

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  3. ameei!!

    yasminlsilva.blogspot.com

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